27 de fevereiro de 2013

UM PRESENTE NO DESERTO!


Conversando com minha filha ontem enquanto relembrávamos tempos difíceis que vivemos...lembrei do meu tempo no deserto...me inspirei...
Sentir é diferente de Saber...
Sentir é uma capacidade também 'racional' que responde e explica o que nosso cérebro não consegue subjetivar, colocar em palavras, exprimir...
sentir é uma forma de inteligência também.
Pois é..estou falando isso porque há algum tempo eu venho SENTINDO que estou saindo de um período no deserto..um bom tempo...tipo assim: 24 anos de deserto.
Estou como esse imagem aí em cima: olhando para uma planície que se desdobra a minha frente e contemplando. 
Esperando o momento de adentrar um novo tempo de caminhada. 
Claro que interiormente eu venho me preparando para isso. 
Não é fácil!....a gente quando caminha muito tempo no deserto, o deserto finda em caminhar dentro da gente...e retirar a areia da alma, o calor escaldante do corpo, e a solidão do coração, não é imediato...mas é possível!!!!
Quando me vi entrando no deserto a primeira coisa que pensei foi que não estava nele. Que se por acaso estivesse mesmo...era de passagem rápida...rsrsrsrs...vivi um tempo nele como quem vive na ilusão de um sonho que está prestes a acordar. Então mantive todos os meus tesouros, aprendizados, formatos, linguagem, preferências, gostos...tudo...como se não estivesse lá...mas um dia eu entendi....eu estava lá...e não sabia quanto tempo seria e nem se sairia!!!!
Foi um choque...perceber que no deserto nada do que eu trazia comigo servia...
ver cada coisa indo embora...
umas porque não tinham utilidade, outras porque se desgastaram devido as condições climáticas, outras porque não conseguiam acompanhar tamanha rusticidade. 
Deserto...tempo de muitas perdas...perdas...e perdas....
Porém o mais lindo de tudo, é que sempre nas horas que me desnudava no deserto...um oásis aparecia bem na minha frente...
um refrigério, um prenuncio da graça de Deus, um cuidado, uma expressão de 'eu estou te vendo'!
 Em alguns oásis eu parei...e descansei...e refleti...
e precisei me desconstruir...reconstruir....criar e recriar...
aprendi a cultivar um oásis em mim...
e como sendo oásis, esse cultivo de serenidade e estabilidade em mim mesma não é perene...são apenas oásis...porque a vida e a caminhada não são compostas só de oásis!
Os momentos de oásis são como abastecimentos para a caminhada do SER!
Muitas vezes na ânsia de proteção...porque o deserto nos trás uma sensação imensa de vulnerabilidade...sem paredes, sem tetos, sem 'tudo'....nesse desejo de me sentir protegida entrei em caixas buscando um pouco de segurança...rsrsrsrs....
A caixa da religião, dos dogmas, dos ritos, dos pensadores, dos filósofos, das ciências exatas, das ciências humanas, dos sábios, dos doutores....enfim....as caixas eram-me muito atraentes, afinal eram pensamentos já formulados, não me traria o trabalho de formular algo que tinha a ver com o contexto, a história, a minha vivência, o meu entorno, a minha estrutura, a estrutura do outro..enfim...VIVER!
Um dia olhei ao meu redor e disse: E AÍ? ESSE É O SEU MUNDO? ESSA CAIXINHA? VOCÊ NÃO NOTA QUE ELA É PURO PAPELÃO? OLHE A SUA VOLTA....VEJA QUE LINDO DESERTO EXISTE DIANTE DE VOCÊ....DESCUBRA O QUE EXISTE APÓS AS DUNAS...APÓS AS MONTANHAS DE PEDRAS...PERCEBA QUE EXISTE ÁGUA ABAIXO DE VOCÊ E PODE CAIR ÁGUA TAMBÉM QUE VEM DE CIMA...
SAI DA CAIXA!!!!
Saí da caixa e sai andando no deserto não mais para sobreviver, mas para SER.
Ser gente no deserto!
Na caminhada encontrei formatos que foram por assim dizer: "sacralizados"...e foram muito úteis para o momento de sua existência...mas que não tinha mais sentido para o hoje.
Olhei, pensei, agradeci a história...a minha história...me perdoei...me congratulei...me agraciei e continuei...totalmente desenformada me in-FORMANDO.
Aprendi no deserto a construir e desconstruir sempre tentando fazer o melhor...não para mostrar a alguém o que tinha feito...no deserto não há ninguém para mostrar...porque os que estão em volta, não estão te vendo...senão não é deserto...rsrsrsrsr....até que a gente tenta fazer um carnavalzinho de vez em quando....um barulho....um atrativo....mas nada..kkkkk...é deserto!
No deserto o que mais eu construí foram poços e expurgos...e algumas fogueiras!
Notem que mesmo fora da caixa ainda há uma tentativa de se ter algumas paredes...rsrsrs..bobagem das grandes...só serviram para segurar a pia!
Um dia acordei MORTA!
Pronto!
O deserto tinha me diplomado.
Morri para o que pensei SER...para viver para uma realidade de descoberta e formação do SER continuada.
Na verdade eu sai do SER para o SENDO!
Meu SER está em constante processo de Vida e Morte.
Lembrei do filme Morte e Vida Severina...pois é....Morte e Vida Eu.
Pode ser que nesse momento uma 'ruma' (expressão nordestina que indica muita quantidade) de gente comece a discordar imensamente.
Sejam livres...minha intenção não é convencer...meu blog é apenas um meio de minha expressão.
Pronta para o novo, me permiti me misturar com o deserto...era uma simbiose engraçada...eu era ele e ele era eu...em outros momentos eu era eu e ele era ele...eu trazia me história e ele sua geografia...e fomos aprendendo a tecer uma transdisciplinaridade vivencial....até hoje trabalho com isso...kkkkk
E eu pensava antes que o deserto era só perdas....
Que nada...o deserto pode proporcionar ganho, ganho, e ganho...
A perda nada mais é que a desistência pessoal de Viver o momento ou a oportunidade que se apresenta diante de nós!
Uma outra coisa aprendi no tempo de deserto:
Nunca estamos sozinhos!
Existe uma presença em nós...por vezes só sentida interiormente...por vezes expressa através de uma dádiva ou pessoa...por vezes no silêncio...por vezes no barulho....existe Alguém que nos fala:
"De maneira nenhuma te deixarei, nunca jamais te abandonarei!"
Ele é o Amado da minha Alma!
Sei que alguns esperariam até que eu colocasse a autoria da frase...mas não preciso fazê-lo...Ele sabe como se apresentar a cada pessoa de forma pessoal e singular.
Existe água no deserto!
Estou com meu cântaro em mãos!
Estou com ele cheio, porque o cântaro é meu.
A caminhada é minha com o cântaro na mão.
A esperança também é minha.
A água que enche o meu cântaro jorra de dentro de mim.
Mas em cada parada para beber água..pode ser que encontre  você na beira do poço....
E vamos beber água juntos com nossos cântaros nas mãos...e caminhar juntos!
EU VEJO A PLANÍCIE!

Rose Lira.

(Inspirada na boneca que um dia presenteei minha filha Esther,..no tempo do deserto....na verdade o presente foi para mim, a alegria e a realização foi minha de poder te dar aquela boneca filha...te amo...)

12 de fevereiro de 2013

VOCAÇÃO???

Vocação é um termo derivado do verbo no latim "vocare" que significa "chamar". A vocação é uma inclinação para exercer uma determinada profissão ou um talento (aptidão natural) para executar algo. Temos uma abordagem para vocação que expressa um chamado espiritual e uma abordagem profissional que se expressa por um conjunto de aptidões naturais e interesses específicos do indivíduo que o direcionam para uma profissão.
Eu particularmente sempre tive uma certa mistura em relação a vocação exercida...nunca soube até que ponto ela vem de uma abordagem espiritual ou profissional, já que ambas sempre estiveram como que misturada nas ocasiões da minha vivência...a meu ver, em se tratando da minha vocação, ela foi gerada, percebida, identificada numa mistura de sagrado com profano, de luto e de felicidade, de sol e tempestades, de vida com seus altos e baixos. 
Foi assim que vi meu ventre vocacional tomar forma e delinear-se em meu Ser!
Um dia entendi a existência desse pequeno Ser em mim que nada mais era que Eu mesma!
Não existia vocação fora de mim, não existia vocação para mim, eu era a minha maior vocação: eu como criação, como filiação, como Existência e Significado, como parte e como todo, como vazio e como preenchimento, sendo fratura ou sendo ligamento, com todos os movimentos da Vida, em luz ou em trevas eu continuo brilhando como vocacionalmente fui feita para tal, porque na Luz que estou imersa tudo é uma só coisa: VIDA!
Por vezes me desdobrei, suei, me rasguei, me doei, me suguei, me vitimei, me entreguei, me lamentei, me culpei...tudo em nome dela: Da Vocação...coitada..quem é ela???? Sou EU!...a usei como algo fatídico, como o fato de eu mesma ter nascido, a usei na minha fuga de mim mesma...a loquei como 'laranja', para não me perceber como ser frágil e tão encarnadamente humano que Sou!
Por vezes descansei, relaxei, dormi, brinquei, recebi, fui agraciada, jubilei, me refiz, me perdoei...tudo em nome dela: Da Vocação...coitada..quem é ela???? Sou EU!...a usei como meritória, como causa de uma premiação, com a percepção de que sem ela eu não tivesse nenhum valor...tudo para não me perceber como sendo eu mesma o valor, forte e tão encarnadamente humano que Sou!
Que bonito ver essa vocação crescer,
aprender a me baixar enquanto ela aprendia a andar...
aprender a reduzir o ritmo enquanto ela dava seus primeiros passos...
permitir que ela me conduzisse enquanto pensava eu que era eu que a sustentava...
perceber que tanto eu como ela somos UMA,
e assim nossas marcas foram ficando na areia por breve tempo em cada porção de caminhada...
simplesmente porque existe um oceano em movimento, que vem e vai em ondas, apagando os passos e permitindo novos desenhos a cada trecho do caminho.
Nós brigávamos por vezes, gritávamos uma com a outra simplesmente porque tudo que eu fazia era meu reflexo, então é muita mais fácil brigar com ela do que comigo. As suas fragilidades eram as minhas e as suas fortalezas também...uma projeção do meu Ser no meu Fazer...nada mais natural, claro!...
Simplesmente porque como o meu Fazer tem suas conexões em meu entorno...deixemos os desafios para o Entorno, entreguemos as dificuldades para a Função, façamos a crítica para a Vocação Fatídica envolvida em um Destino Definitivo e Imutável!
Mas me divirto muito com ela e ela comigo...
só lembrando: somos UMA...
nos enfeitamos, nos elogiamos, nos valorizamos, nos cuidamos, nos auto-promovemos, somos soberbas as vezes, em outras somos orgulhosas de Si mesma...rsrsrsrs...
temos a pretensão hilária em alguns momentos de achar que somos Única!...kkkkk...
e somos: Sou Eu...Criada, Filiada e Amada...
e se você nesse momento tá achando meu Ego enorme, eu,lhe digo: Sim, ele tem 1.80 de altura...
um ego que foi criado pra Ser Ego...
e se assim não fosse, não seria Morada do Ser!
...Meu Amado não habita em casa vazia, mas em casa repleta dEle mesmo, repleta de sua criação, de sua filiação e de Sua Vocação: Eu....a minha vocação!
Por isso ela se multiplica em mim, e eu nela!
A Vida é a vocação da Vocação!
Vida multiplicada, expressa em vivência, espalhada em abraços, enumeradas em afetos, realizada em elos!
Não tenho vocação,
Sou Vocação!
Por isso não importa pra mim os formatos, os lugares, as pessoas, as funções, os resultados, a repercussão!
Sou vocação onde estou!
Na rua, em casa.
Comigo, com você, com o outro, com ninguém!
Sou Alguém!
Sei e sinto que nessa caminhada não estou sozinha.
Tem sempre uma Mão sobre a minha.
Sinto Seu afeto e Seu cuidado.
Sinto Sua energia em meu cansaço.
Digo sinto porque é assim que eu penso...sentindo!
É meu jeito de Ser e por conseguinte meu jeito de Fazer.
E quando tento me violentar querendo que o pensar se sobreponha ao sentir...minha vocação se esvai!
Eu me vejo escoar pelas questões da razão!
Por isso eu Sinto!
Sinto o meu pensar e peso o meu sentir!
E nesse movimento, sinto sua Mão a Me conduzir!
 Minha Vocação Sou Eu Andando em busca de Mim.
Eu Sou minha Vocação caminhando em busca de Ti.
Nós Somos Ele Caminhando em busca de Nós!
E nessa caminhada não estamos Sós!

Rose Lira.


4 de fevereiro de 2013

UMA MANHA TRISTE LOGO DE MANHÃ!

Os jardins não são feitos só de primaveras.
As cores todas tem as suas belezas e seus lugares nas nuances da vida.
A tristeza tem o seu papel, o seu fel, o seu mel.
E o luto seu troféu!
Sei que os românticos, os religiosos, os crédulos, os positivistas gostam de pensar só em imagens pastéis...cores bebês, cenas fofas, cheiros doces, paisagens límpidas...aahhhhh....mas que peninhaaa!!!!...não é assim que se constitui a paisagem, a imagem, a coragem!
Sei que seria melhor que eu não falasse.
Que me calasse!
Basta enxergar!
Pra que elucidar, anunciar, declamar, recitar, debulhar o meu ocaso?
Sombras sem voz.
Atroz.
Sós!
Se pelo menos sua boca fosse só aquela: cheia de riso!
Mas essa? Repleta de siso?
Que siso? Siso prudência ou dente siso?
Que importa? Tanto um como outro tem seus incômodos, suas dores, seus apertos.
Que importa que o siso seja aquela cautela, aquela prudência, ou o siso que dói, que inflama, que reclama?
Tenha uma boca querida!
Tenha uma voz que possa ser bem utilizada.
Arrumada.
Manipulada.
Idiotizada.
Porque a sua voz minha amiga...está neurotizada.
Amargurada.
Incomodada.
Denunciada.
Invocada.
Que nada!!!!!!
Voz que não tem onde ecoar não é voz...é zoada!
Quero esta imagem apenas porque achei provocativa.
Achou ruim? Tens medo porque o modelo não é o que vestes?
Vais dizer agora que a "morte já foi vencida"?
Então porque delas estás vestidas?
Não notastes que por baixo dos vestidos domingueiros vestes uma pele de arqueiro?
Matas.
Condenas.
Julgas.
Ameaças.
Desqualificas.
Demonizas.
Enfeitiças.
Tira tuas roupas empobrecidas de falsa vida.
E tens a dignidade de te perceber pobre de amor, de cuidados, de afagos!
Por hoje chega....já sangrastes demais.
Chega de tanto ais!
Chega de tanto derrame.
Chega de que tanto ame.
Põe teu rosto entre tuas mãos...pois são o teu amparo no momento sanguinolento.
Portento.
O evento do agora.
Tô fora.
Saindo dessa agonia que parece pura magia.
Lembra-te pois que tuas mãos podem conter tesouras.
Não pode mais que o necessário.
Sou Rosa...morro, renasço, refloreio, mas apenas sou erva.
E como erva...não se inerva...porém se conserva!
Desculpem tantas imagens estranhas.
Tantas voz que arranha.
Mas é que hoje estou com manha!


Rose Lira.



  

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